História
O Biblioteca Falada surgiu, em 2004, como um projeto de extensão cuja proposta era facilitar o acesso de pessoas com deficiência visual a informações de livros, jornais e revistas. Criado pelo Prof. Dr. João Batista Neto Chamadoira, do Departamento de Ciências Humanas da FAAC/Unesp, o projeto atendia especificamente o Lar Escola Santa Luzia para Cegos, de Bauru (LESL) e suas atividades eram realizadas pelo professor, com colaboração esporádica de voluntários. O docente era quem escolhia o material a ser adaptado para mídia sonora, especialmente livros e reportagens impressas, fazia a narração dos textos e posterior edição dos áudios narrados, os quais, ao final, eram entregues à instituição. Cerca de quatro produções eram entregues a cada ano, até 2010, quando a primeira fase do projeto foi encerrada, devido à aposentadoria do professor Chamadoira.
Em 2013, a Profª Dr.ª Suely Maciel retomou o projeto de extensão e o reformulou, ampliando sua abrangência e atuação. Desde então, o BF manteve, como atividade principal, a produção de mídia acessível, mas incluiu nesta a audiodescrição, sempre conforme as demandas do público atendido. Além disso, passou a realizar atividades de difusão do conhecimento sobre Desenho Universal, acessibilidade e métodos e formatos de produção acessível para pessoas com deficiência visual. Em 2022, o BF tornou-se um laboratório de ensino, pesquisa e extensão em mídia e acessibilidade, com sede própria, localizada no prédio da pós-graduação da FAAC/Unesp.
A partir da segunda fase (2013 em diante), houve significativa ampliação no escopo e na quantidade de produções, da ordem das dezenas por ano. Elas incluem documentários originais de temas diversos (música, saúde, meio ambiente, esportes, biografias etc.), adaptações de peças teatrais para a mídia sonora, versões em áudio de livros, apostilas e manuais de cursos ministrados no LESL, audiodescrição de produções audiovisuais, incluindo de personagens da teledramaturgia, reportagens e programas de televisão, visitas guiadas a espaços públicos e privados e o desenvolvimento de produções especiais para integração ao aplicativo SIGA – Guia Acessível da Cidade. Até agora, as produções somam mais de 700 arquivos, sendo que quase 500 deles estão disponíveis neste site, além dos arquivos de áudio relativos ao SIGA, os quais integram também um aplicativo próprio.
O principal público atendido continua sendo o LESL e seus aproximadamente 80 alunos, além de professores e monitores da instituição. Ao longo desses anos de atividade, outras parcerias também foram realizadas, como as estabelecidas com o Centro de Prevenção à Cegueira, de Americana/SP, a Divisão de Ensino Especial da Secretaria Municipal de Educação de Bauru, a APAE/Bauru, projetos da Unesp e outras instituições, sem falar nas demandas de pessoas com deficiência visual do Brasil inteiro, que entram em contato com o laboratório, via e-mail e redes sociais.
A participação no Biblioteca Falada também se ampliou nos últimos dez anos e ele passou a integrar docentes, alunos e colaboradores externos, os quais somam mais de 200 pessoas, a partir de 2013. Numa dinâmica totalmente multidisciplinar, ainda que as atividades estejam basicamente concentradas nos processos midiáticos e da comunicação, o projeto já reuniu estudantes de diversos cursos, como Artes Visuais, Ciências Biológicas, Jornalismo, Relações Públicas, Design, Rádio, TV e Internet, Educação Física, Engenharia Elétrica, Engenharia de Produção, Matemática, Ciência da Computação, Sistemas de Informação, Letras e Psicologia.
A maioria dos estudantes é da Unesp, mas há também a participação de discentes do Centro Universitário Sagrado Coração (Unisagrado), Universidade Paulista (Unip) e Faculdade de Tecnologia de Bauru (Fatec). Anualmente, cerca de 40 discentes o integram, bem como 20 colaboradores, entre docentes e profissionais do LESL, da Unisagrado, da Divisão de Ensino Especial da Secretaria de Educação de Bauru e profissionais liberais, além de consultores audiodescritores cegos e audiodescritores roteiristas. Toda a participação é estritamente voluntária.
Desde 2020, as ações concentram-se também no desenvolvimento e produção do SIGA – Guia Acessível da Cidade, projeto de Inovação e Tecnologia Social que consiste no desenvolvimento de um aplicativo de geolocalização com pontos históricos, geográficos, sociais e culturais, incluindo de praças, parques e logradouros até museus e prédios públicos/administrativos. A cada ponto de interesse elencado correspondem informações históricas e de serviço e, principalmente, o diferencial da audiodescrição de características físicas dos locais (estrutura, arquitetura e estilo, dimensão etc.).
Partindo de Bauru, a proposta do SIGA atende a uma demanda dos alunos do LESL e da rede municipal de ensino, que se ressentiam da falta de informação sobre esses pontos de interesse cujas características físicas não são acessíveis, por meio da visão, para as pessoas com deficiência visual. Eles também sentiam falta de parâmetros que lhes permitissem construir um ‘mapa mental’ do espaço urbano, identificando cada lugar descrito à sua localização na cidade.
Com o projeto do aplicativo, busca-se fornecer um instrumento de construção de conhecimento sobre pontos de interesse da cidade, contribuindo para o acesso à comunicação e à informação e a difusão de saberes que possam ser empregados pelos sujeitos em sua vida cotidiana. O SIGA foi iniciado por Bauru, localidade sobre a qual se baseiam dezenas de arquivos de informações gerais e audiodescrição. Iniciando uma segunda etapa de desenvolvimento, a partir de 2023, o projeto deverá se expandir para novas regiões da cidade e municípios do entorno, bem como para outras localidades do Estado e do país, especialmente por meio de parcerias com pesquisadores e instituições e organizações desses locais.
Juntamente com a produção de mídia acessível e o desenvolvimento de tecnologias para a inclusão, o Biblioteca Falada foi paulatinamente ampliando ações de formação e difusão do conhecimento, promovendo capacitações, inspirando pesquisas e servindo de espaço para o desenvolvimento delas, sempre no sentido de contribuir para o debate sobre acessibilidade e inclusão da pessoas com deficiência, como já exposto.
Ao longo dos anos, foram dezenas de atividades de formação dos membros do projeto, por meio da promoção de cursos, palestras e oficinas sobre produção em mídia acessível, mas esse público foi se ampliando, a pedido de coletivos, organizações e órgãos internos e externos à Unesp, para difusão de conhecimentos e capacitação em acessibilidade. Entre esses parceiros podem ser citados a Associação Atlética da Unesp, a Enactus Unesp, o Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Unesp/Bauru, o projeto Educando para a Diversidade (Convênio Santander Universidades/Unesp), o veículo de imprensa bauruense Jornal da Cidade, o Instituto de Ensino Superior de Bauru (IESB), o Serviço Social do Comércio (SESC Brasil) e a Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (Embraer), entre outros.
A essas atividades soma-se a promoção de eventos, como o Simpósio Comunicação e Acessibilidade Cultural, a Feira de Inovação e Acessibilidade (estes dois em parceria com o grupo de pesquisa Mídia Acessível e Tradução Audiovisual – Matav) e o Ciclo de atividades em Acessibilidade na Comunicação e na Cultura. No total, são mais de 60 ações.
Quantidade semelhante refere-se à produção científica, resultado de pesquisas e da própria experiência no/do projeto. São, ao todo, quase 60 produções, entre trabalhos publicados em anais de congressos nacionais e internacionais, artigos em periódicos, capítulos de livros, apresentação de trabalhos, conferências etc.
Na sua trajetória de quase 20 anos, portanto, o Biblioteca Falada tem-se constituído como uma importante iniciativa e espaço para a promoção da acessibilidade na mídia, na comunicação, na educação e na cultura.